A observação continuada do funcionamento da universidade pública portuguesa revela um fenómeno estrutural que merece atenção: a rarefação progressiva de figuras com verdadeira estatura intelectual e capacidade de liderança científica.
Em vários sistemas universitários europeus — incluindo o francês — foi comum ao longo de décadas encontrar professores cuja autoridade científica e visão académica moldavam gerações.
Na minha área, Professores como Hans Werner Drawin ou Jean-Loup Delcroix exemplificavam um modelo de liderança assente em:
▫️ elevada exigência intelectual
▫️ independência crítica
▫️ formação científica sólida e abrangente
▫️ responsabilidade institucional
▫️ capacidade natural de orientar e inspirar comunidades académicas
Na universidade pública portuguesa, esta combinação tornou-se menos frequente.
As causas são múltiplas e estruturais:
➤ Pressões administrativas que drenam tempo e energia
➤ Hierarquias rígidas que desincentivam pensamento independente
➤ Culturas internas de conformidade, mais do que excelência
➤ Avaliações baseadas em métricas formais, não em profundidade científica
➤ Carreiras condicionadas por lógicas internas, nem sempre alinhadas com mérito académico
Este contexto gera uma situação paradoxal: fala-se em “universidade”, mas observa-se frequentemente um comportamento institucional próximo de vassalagem académica — dependências tácitas, clientelismo subtil e ausência de figuras que assumam liderança intelectual pela força do conhecimento e do exemplo.
Isto não significa falta de competência individual dentro das instituições.
Significa, sim, que o sistema atual não favorece — e por vezes desencoraja — o aparecimento de vozes independentes, densas e formativas, como se encontra noutras tradições universitárias europeias.
Por isso, a reflexão torna-se necessária:
⚡ Uma universidade que aspire a ter impacto científico real precisa de criar condições para que surjam novamente figuras intelectuais com visão, autonomia e exigência — não apenas gestores académicos, mas verdadeiros formadores de pensamento.
Abraço,
Mário Pinheiro ( linkedin.com/in/mario-pinheiro-07715614 )